Poder rosa: o tom da temporada

O rosa vai estar em alta em 2023. Mas a tendência vai além do tradicional circuito da moda e decoração para algo mais simbólico. Rosa é tradicionalmente a cor da feminilidade, de mulheres, de meninas. Portanto, sua ascensão quando o mundo está mais inóspito para as mulheres, no início da era pós-Roe x Wade, é significativa. Talvez seja por isso que o tom de rosa que está na moda não é suave ou açucarado, como cobertores de bebê ou a Peppa Pig. É um rosa que exige atenção.

Além do Viva Magenta, a cor do ano de 2023 da Pantone, há o tom Valentino Pink PP, que inundou o desfile de primavera da Valentino e o tapete vermelho desde então. Há também o framboesa da coleção de Molly Goddard e a tonalidade de caneta marca-texto dos looks da cabeça aos pés de Richard Quinn. Caroline Young, autora de The Color Of Fashion, diz que a adoção desse rosa chamativo pode ser vista como uma forma de driblar as expectativas de doçura e passividade. “Pense no vestido da Molly Goddard, usado em Killing Eve. É uma cor doce, mas usada por uma assassina psicopata.” 

Essa teoria se aplica aos chapéus Pink Pussy, que invadiram as ruas para as Marchas das Mulheres em 2017. Ou à espera do filme Barbie. A boneca não costuma ser vista como parte da causa feminista, mas a versão cinematográfica que será lançada em julho, com Margot Robbie no papel-título e Greta Gerwig na direção, deve desafiar essa concepção.

Foi Elsa Schiaparelli quem colocou o rosa-choque na moda nos anos 30, tom que é usado pela marca até hoje. E o rosa “cheguei” nunca olhou para trás. Ele foi punk – Paul Simonon, do The Clash, disse uma vez que “o rosa é a única cor verdadeira do rock ‘n’ roll” – e participou da cultura irônica, ou talvez totalmente séria, liderada por Paris Hilton na virada do milênio, quando o rosa se tornou um uniforme. Certamente não é coincidência que a cor esteja de volta no atual renascimento dos anos 2000 – Fuchsia Rose foi a cor do ano da Pantone em 2001. 

O rosa hoje é vivificante como sempre. A designer da Shrimps, Hannah Weiland, chama-o de estimulante do humor: “Acho que a cor tem calor e alegria. A maioria dos rosas cria um senso geral de felicidade”. Georgina Huddart, a designer por trás da Hunza G, revela que seu maiô rosa-chiclete é um dos mais vendidos da marca porque “pessoas que usam rosa passam a sensação de que estão se divertindo”. O gênero não importa mais, e talvez isso leve ao uso mais radical da cor. “Meu filho de dois anos usa muito rosa e cada vez mais pinta com essa cor”, diz Hannah. “Ele adora, porque ninguém disse que não é para ele. Espero que continue assim.”

Lauren Cochrane é redatora sênior de moda no The Guardian e autora de The Ten