A vida depois da gal-dem: o que Liv Little está fazendo agora

Por que contamos histórias? Muitas vezes, para entender nosso lugar no mundo ou para ajudar os outros a se sentirem vistos. É por isso que, em 2015, Liv Little fundou a gal-dem, uma publicação revolucionária para mulheres e pessoas não binárias e não brancas que durou oito anos incríveis. Infelizmente, em março deste ano, a publicação anunciou seu fechamento, deixando um sólido legado no mundo editorial e destacando – muito antes do “ativismo performático” – a necessidade de dar voz a pessoas até então marginalizadas.

Sobre o encerramento, Liv, que havia se afastado da publicação em 2020, disse: “pode ser o fim de um capítulo, mas que grande capítulo”. A decisão pareceu estranha para uma mulher que construiu um império, ainda no seu apogeu. Enquanto conversa comigo pelo Zoom do sofá de casa, com seus dois gatos escalando-a intermitentemente, ela conta que, na época, estava sofrendo com o burnout. “Quero ocupar espaços de várias formas, e minha abordagem para contar histórias é não me sentir presa a um estilo”, diz ela. “Nada dura para sempre, e nada deve durar para sempre. Eu ficaria muito entediada se fizesse sempre a mesma coisa.”

Quando Liv saiu da gal-dem, começou um mestrado em literatura negra britânica. Na época, ela disse: “Você só pode ser uma boa contadora de histórias se estudar”. O resultado desse curso e da mudança na carreira é seu romance de estreia, Rosewater. É a história comovente de Elsie, uma jovem poetisa queer que vive em Londres e tenta encontrar o senso de lar – em todos os sentidos – após ser despejada da sua habitação social. Diz muito sobre criar arte em uma sociedade capitalista, família e o significado do retorno ao lar, se o abraçarmos totalmente.

“Eu queria que a Elsie tivesse uma voz importante, e é por isso que ela é uma poetisa”, explica Liv. Kai-Isaiah Jamal escreveu as poesias, refletindo a inclinação de Liv em dar espaço a outros artistas negros. “Capacidade de se conectar com o coração através da poesia e da performance: essa é a magia e o poder de Elsie, e de Kai também”, diz ela. “Quando me enviaram o poema sobre o prato guianense pepperpot, lembrei da minha mãe. Realmente expressou o significado daquela comida, cultural e espiritualmente. Chorei quando li esse poema.”

O que atrai Liv para uma história é criar o personagem e encontrar a voz dele. Ela descreve Elsie como alguém “intransigente”. “Não queria que ela fosse insegura sobre sua negritude, sua estranheza ou seu talento. Ela não é nenhuma dessas coisas. Ela sabe que é boa.”

Quando uma tragédia pessoal fez com que Liv abandonasse o mestrado, ela descreve um período de extrema tristeza e desorientação. Sugiro que, talvez, ela estivesse procurando sua própria voz. “Acho que você está certa, talvez eu estivesse tentando fazer isso”, diz ela. Rosewater sugere que ela conseguiu.

Rosewater, de Liv Little, já está disponível
Marie-Claire Chappet é jornalista de arte e cultura, editora colaboradora da Harper’s Bazaar e mora em Londres